quinta-feira, 2 de outubro de 2008

alimentação - cuidado nutricional

Cuidado Nutricional

A desnutrição nos portadores de doença de Crohn é uma constante. Ela é ocasionada pela dificuldade na absorção dos nutrientes, aumento da taxa do metabolismo basal, perdas proteicas, interferência dos medicamentos, anorexia (própria da fase de crise) e insegurança em se alimentar por medo da piora do quadro.

As diarréias e também a Disbacteriose intestinal, sempre presentes nos portadores de Crohn, levam à desnutrição.

A indicação é de dieta hiperproteica e hipercalórica, com baixo teor de fribras, sendo a mais usada a fibra solúvel, hipolipídica, normoglicídica, hiperhídrica, hipervitamínica, hiperminerálica, com suplementação de vitamina B12, B1 e B6, as vitaminas lipossolúveis, vitamina C, ácido fólico e minerais como zinco, cálcio e magnésio. Em condições graves a indicação é de um suporte nutricional enteral, incluindo preparados de suplementos absorvíveis isotônicos de aminoácidos, glicose, gorduras, minerais e vitaminas.

Nos casos de complicações de doença de Crohn, o suporte da nutrição parenteral é mais eficiente. Essa terapia é vital para restaurar e manter a saúde nutricional em pacientes com obstrução, fístulas, fase grave, ressecções intestinais e na infância, para que seja evitado um grave retardo no crescimento e desenvolvimento.

Uma reposição nutricional adequada melhora muito os sintomas. Há uma redução de secreção e motilidade intestinal, redução de atividade da doença, alívio na obstrução intestinal parcial, fechamento ocasional de fístulas entéricas e renovação do sistema imunológico.

O doente de Crohn, com doença localizada no íleo terminal ou aqueles que tem o íleo removido, não possui absorção de vitamina B12 pois é justamente no íleo que ela seria absorvida. A reposição no organismo é feita através de injeção de B12 de acordo com a orientação médica.

As vitaminas de complexo B são muito importantes para recuperação das funções orgânicas. O ácido fólico, está especialmente indicado na doença do Crohn pois interfere rapidamente na renovação do tecido epitélial intestinal (principalmente o delgado) e mucosa em geral.

A vitamina E juntamente com a vitamina C são extremamente necessárias e, aliadas ao Zinco, melhoram o sistema imunológico, participam na síntese dos tecidos e contribuem para integridade tecidual.

A combinação zinco e vitamina C auxilia o organismo a utilizar todo o seu potencial de defesa.

Obs.: Para haver uma boa disponibilidade da vitamina C no organismo ela deve ser ingerida juntamente com a vitamina E.

Para haver uma boa absorção do ácido fólico sua administração deve ser feita após duas horas da ingestão de suplementos com Zinco. Estudos demonstram que a terapia com a suplementação dessas vitaminas e esse mineral dão bons resultados.

O doente de Crohn, devido às constantes diarréias e destruição tecidual, necessita de uma dieta rica em potássio. Em casos graves, durante a internação, há necessidade da indicação de terapia com potássio para evitar a hipocalemia.

A dieta rica em potássio ou terapia com potássio pode diminuir a absorção de vitamina B12 no intestino.

A Dieta rica em cálcio ou a suplementação é extremamente importante nas fases agudas da doença.

- Novos Recursos Nutricionais

Alimentos funcionais e nutracêuticos: atualmente estão em evidências estudos comprovando que determinados nutrientes favorecem a melhora da permeabilidade intestinal e das inflamações, aumento da imunidade e recuperação mais rápida nas crises de Crohn.

Podemos citar a ação de algum deles:

. Alho - possui ação anti-inflamatória na doença de Crohn, através de um dos seus componentes, a ajoeno (ajocisteína), é recomendado em cápsulas ou mesmo no tempero. Sua ação é potencializada quando usado cru.

. Ácido graxo omega3 - Age na recuperação anatômica da mucosa e aumenta a imunidade. O processo inflamatório é iniciado pela produção de ácidos graxos biologicamente ativos, prostaglandinas e leucotrienos. O ácido graxo omega 3 pode alterar a produção de ácidos graxos biologicamente ativos. É necessária uma administração elevada para surtir efeito anti-inflamatório e sua disponibilidade melhora com suplementação de vitamina E. Mas, através de uma alimentação bem planejada, podemos alcançar os resultados sem utilizarmos os suplementos.

. Glutamina + hormônio do crescimento – A glutamina é um aminoácido que atua no intestino delgado, sendo essencial nos estados catabólicos, como acontece com o Crohn. É o principal combustível oxidativo das células epteliais. Age como fonte energética para divisão celular das células da mucosa e linfócitos gastro intestinais. O hormônio do crescimento (GH) é uma pequena proteína que contem 191 aminoácidos em uma cadeia única. O GH diminui o catabolismo proteico ao reduzir a oxidação dos aminoácidos. Ele favorece o balanço nitrogenado mesmo com dieta hipocalórica. Nas doenças inflamatórias intestinais a administração da glutamina e do hormônio do crescimento, através dos suplementos nutricionais, são essenciais para uma rápida recuperação, reduzindo as inflamações e agindo no equilíbrio entre anabolismo e catabolismo e no metabolismo das proteínas.

- Probióticos – Prebióticos e Simbióticos:

Probióticos são suplementos alimentares, compostos por microorganismos com efeitos benéficos, promovendo o equilíbrio microbiano da microflora intestinal.

Quem são os probióticos?

* Lactobacilli:
. Lactobacilli rhamnosus GG
. Lactobacilli rhamnsus 271
. Lactobacilli acidophilus NCFM
. Lactobacilli acidophilus DDS-1
. Lactobacilli acidophilus LA 1
. Lactobacilli casei shirota
. Lactobacilli casei CRL-413
. Lactobacilli fermentum RC-14
. Lactobacilli reuteri
. Lactobacilli plantarun 299 e 299 V

* Bifidobacterium:
. Bifidobacterium bifidum
. Bifidobacterium infantis
. Bifidobacterium adolescentis
. Bifidobacterium longun
. Bifidobacterium animalis

Prebióticos são derivados dos carboidratos não hidrolizados pelas enzimas digestivas, chegando ao intestino grosso onde passam a ser digeridos pela microflora existente, sendo fermentados principalmente pelas bactérias não patogênicas. Exemplos de prebióticos: frutoóligossacarídeos (banana, aveia, cevada, maçã, fibra solúvel, etc.), óligossacarideos (soja) e inulina (inhame, alho, chicória, trigo, entre outros).

Simbióticos são definidos pela combinação de probióticos e prebióticos que juntos melhoram a implantação e sobrevivência dos microorganismos, além de promover o equilíbrio da microflora bacteriana. O desequilíbrio entre qualitativo e quantitativo entre microorganismos, afetando o intestino, é chamado de Disbiose (ou disbacteriose) Intestinal. Na doença de Crohn a ação dos probióticos tem efeitos terapêuticos melhorando a permeabilidade intestinal, aumentado a imunidade, melhorando a absorção de minerais e reduzindo as fases de diarréia.

- Interação Drogas X Nutrientes

Em todas as dietas para situações especiais deve-se dar muita importância para a interação drogasXnutrientes. Na doença de Crohn, que é uma enfermidade crônica e possui fases medicamentosas longas, a atenção do nutricionista precisa ser redobrada. A falta de eficácia com determinados nutrientes e o efeito negativo de outros trazem depleções para o organismo ou retenção do mesmo. Um exemplo é a retenção do sódio com a terapia com a cortisona e poderia ser evitado se todos os profissionais da saúde conhecessem o assunto.

O que pode ocorrer com a interação drogas X nutrientes na doença de Crohn:

. os nutrientes podem alterar a biodisponibilidade de outros nutrientes
. os nutrientes podem reagir e reduzir a ação das drogas
. as drogas podem produzir depleção dos nutrientes
. doenças crônicas como o Crohn interferem na ação dos nutrientes e dos medicamentos

O estado físico do paciente e a fase em que se encontra a doença de Crohn podem interferir na biodisponibilidade da droga. No uso de várias drogas ao mesmo tempo, há interação entre elas com vários efeitos colaterais, interferindo também na nutrição.

O nutricionista deve estar atento e verificar sempre a avaliação nutricional do paciente, conhecendo e compreendendo o potencial das interações nutrientes e drogas que pode alterar a conduta dietoterápica e medicamentosa trazendo sérias dificuldades para a recuperação do doente de Crohn.

Citarei como exemplo a interação drogasXnutrientes com relação ao uso de corticosteróide pelo paciente de Crohn e qual a conduta alimentar para minimizar os efeitos colaterais.

Obs.: A cortisona deve ser tomada junto com os alimentos para reduzir desconfortos gastro-intestinais .
A dieta deve ser rica em potássio porque a cortisona ocasiona depleção do mesmo.

A dieta deve ser hipossódica para evitar a retenção de sódio, deve ser hiperproteica para reduzir os efeitos do catabolismo da droga e, ser rica em Potássio, Zinco, vitamina A, D (bloqueia o metabolismo renal), Cálcio, Fósforo – se nessesário suplementar esses nutrientes.

A cortisona aumenta o apetite e o peso (tomar cuidado com a dieta prescrita). Necessita ainda da suplementação do ácido fólico que já é necessária para a recuperação mais rápida do doente. O outro cuidado é quanto o aumento de glicemia. Acompanhar e evitar alimentos que contribuam para isto e durante o tratamento cuidar da reposição dos eletrólitos diariamente.

- Planejamento da Dieta:

A dieta é bastante individualizada, havendo necessidade de uma boa anamnese alimentar e um contato muito estreito do médico com o nutricionista e o paciente. O apetite do doente de Crohn é escasso, sendo imperativa uma dieta bem adequada, altamente nutritiva, usando-se diversos recursos alimentares com criatividade que podem implementar o cardápio.

Cabe ao nutricionista incentivar com carinho o paciente de Crohn a se alimentar, explicando todos os benefícios da nutrição para o restabelecimento mais rápido das fases de crise e manutenção do bem-estar e qualidade de vida saudável em fase de remissão.

O cardápio diário deve ser dividido de 6 a 8 refeições, auxiliando assim na melhor digestibilidade, reposição das perdas de eletrólitos, de energia e na melhor absorção dos nutrientes.

- Proteína de Alto valor

Deve conter proteínas de alto valor biológico, são indicadas ovos e carnes, em geral, sem gordura e bem cozidas, evitar o leite nas fases agudas, devido à intolerância à caseína (proteína do leite) e, em menor incidência intolerância à lactose.

Usar leite de soja, de preferência suplementos nutricionais, com proteína hidrolizada e sem lactose.

- Energia de alto valor

Cerca de 2.500 a 3.000 Kcal são necessárias para compensar perdas diárias pelas fezes e conseqüente perda de peso. Para aumentar o valor calórico da dieta, as gorduras vegetais são ótimas fontes (ricas em omega3), azeite de oliva, canola, soja. Pode-se usar ainda, manteiga ou margarina de maneira moderada.

A perda de gordura nas fezes é comum na doença de Crohn. Na ocorrência desse problema a gordura deve ser diminuída e não retirada da dieta. Em caso de necessidade de uma gordura facilmente absorvida podemos lançar mão dos triglicerídios de cadeia média (TCM), comercialmente preparados. Quanto aos carboidratos, devemos restringir a sacarose e doces concentrados.

O valor calórico deve ser aumentado através do arroz, farinha de arroz, farinha de milho, feculentos, legumes, frutas, biscoitos simples (Maria, maizena e bolacha de água e sal) e torradas.

- Teor de fibras

As fibras podem ser inseridas na dieta. Em fase de crise apenas as solúveis são importantes e são recomendadas até no controle da diarréia.

Quanto às insolúveis, na fase de remissão da doença, podem ser introduzidas gradativamente, respeitando a intolerância alimentar de cada paciente.

- Condimentos e texturas

Textura cremosa e pastosa em fase de crise; branda em fase de remissão. Não usar frituras. Os condimentos devem ser a base de ervas, alhos, sem molhos fortes e sem alimentos que formam gases e promovem flatulência.

- Bebidas

São proibidos os fermentados (vinho, cerveja, champanhe), os refrigerantes, sucos artificiais e água com gás. Deve-se evitar os líquidos e alimentos gelados.

É recomendado o consumo de água de coco, água natural sem gás, suco de lima da pérsia, suco de laranja lima, suco de cenoura com couve coado, suco de goiaba, caju, maracujá, maçã ou suco de frutas não irritantes da mucosa.

Pode-se usar chá de ervas que ajudam na digestão, tais como: camomila, cidreira, erva-doce, hortelã, chá verde, chá de jasmim.

Para enriquecermos a alimentação do paciente de Crohn e também dependendo da fase e das condições físicas de que se encontra, podemos lançar mão de diversos recursos no mercado de suplementos nutricionais, alguns especificamente para a doença de Crohn como o Modulen da Néstle ou com adição específica de nutrientes como: glutamina, omega3, com fibras solúveis, entre outras.

Fonte: cozinhanet

Um comentário:

Unknown disse...

Boa noite!

Sou estudante de nutrição, faço uma tese de doenças gastro intestinais.
Escrevestes sobre Doença de Crohn, está tudo correto, mas acho que houve um erro de digitação onde o item energia de alto valor biológico, que que os óleos são ricos em ômega, na verdade é de ômega 6 e 9. Não podemos esquecer que ômega 6 tem ação inflamatória. O Omega 9, do azeite e òleo de canola, têm ação anti inflamatória. Ômega 3 é encontrado em peixes, que usa como ação protetora na questão de defesa nas baixas temperaturas, onde o DHA é mais encontrado nos olhos dos peixes e o EPA na musculatura. A quantidade de ômega 3 é irrisória nesses oleos.(WAITZBERG, D. L., 2010)



Sua conduta está excelente!