terça-feira, 30 de setembro de 2008

Alimentação

Uma dieta específica para DII levanta um debate sobre a real importância do assunto para quem tem Crohn ou colite ulcerativa .

Os pacientes de doenças inflamatórias intestinais têm – ou deveriam ter – um interesse ainda maior por este assunto, pois a alimentação é uma questão delicada para quem tem doen­ça de Crohn ou colite ulcerativa. Salvo nos casos em que a doença é mais leve, dificilmente no dia-a-dia dá para fazer uma dieta convencional, como fazem as pessoas saudáveis. Os portadores dessas doenças ficam muitas vezes perdidos.

Não sabem se têm que cortar de vez os alimentos que soltam o intestino ou se devem se preocupar só quando estão em crise. Não há um ­manual definitivo sobre o tema. Em geral, os médicos dão algu­mas orientações sobre o que se pode e o que não se pode comer, e os pacientes seguem mais ou menos. Quando em crise, levam a questão mais a sério. ­Quando fora de crise, seja o que Deus quiser. Talvez isso ocorra porque o assunto é contraditório entre os próprios médi­­cos. Alguns afirmam que a alimentação correta pode manter o doente fora de crise. Outros dizem que o que mantém a remissão são os medicamentos.

Outros ­ainda acham que é a soma de tudo isso. Talvez por essa falta de certezas os portadores de DII acabem seguindo sua pró­pria cabeça e instinto quando o assunto é alimentação.

Há no mercado uma dieta específica para doenças intestinais que pode ajudar muito quem tem diarréia crônica, doença de Crohn, Colite Ulcerativa ou ­Doença Celíaca: é a Specific Carbohydrate Diet, SCD. A SCD não faz o sucesso estrondoso das dietas para emagrecer (até porque seu objetivo não é emagrecer), nem tam­pouco tem o aval de todos os médicos. Em compensação, funciona. Quem a faz, passa bem. A SCD foi desenvolvida pela americana Elaine Gottschall, para ajudar sua filha, que tem colite ulcerativa (veja box).

Na época em que foi desenvolvida a filha era criança. Hoje a menina é moça e está fora de crise há 20 anos. Para explicar sua dieta Elaine lançou, em 1994, o livro Breaking the vicious cycle, que já está na sua 11ª ­edição. O princípio básico da dieta é eliminar os carboidratos da alimentação - massas, arroz, açúcar, pães e farinhas. A tese da autora é que os carboidratos são energia para os micróbios do intestino e contribuem para o desenvolvimento de doenças inflamatórias intestinais.

Vale a pena dar uma olhada no livro. Ele traz receitas doces e salgadas para todos os tipos de refeições - café da ­manhã, almoço, jantar e happy hour. Há depoimentos de ­vários pacientes de doenças intestinais que contam como a dieta melhorou sua qualidade de vida ou até como ela os curou de seus diagnósticos.

“Esta dieta reduz 90% do ­total de carboidratos ingeridos por dia e isso é impactante”.
O princípio do livro é bastante interessante. O intestino de um paciente de DII é inflamado e por isso não produz as enzimas necessárias para a absorção dos alimentos. Quando o carboidrato chega num intestino nesse estado, passa a ser utilizado ­pelas bactérias locais, provocando um aumento de gases.

A idéia da dieta é tirar o carboidrato para, assim, eliminar os gases e a diarréia.
A dieta aparentemente, é con­vincente, mas se contradiz em alguns pontos. Por exemplo, ela indica vegetais, mas não indica grãos. Ora, vegetais também têm fibras!! Por outro lado, ela cozinha os vegetais. E mais: a dieta tira os carboidratos com­plexos, o açúcar e o adoçante. Por que adoçante não pode? Onde está escrito que aspartame faz mal para doença de Crohn?

Embora poucos médicos conheçam esta dieta, ­muitos dos que não conhecem são bastante reticentes a ela. Em seu livro, no entanto, a autora conta diversas histórias de doentes que ficaram bem. Quem quiser ­experimentar a dieta terá que ter, principalmente, ­muita força de vontade, pois seguí-la à risca não é nada fácil. É preciso fazer uma mudança drástica na alimentação. Os carboidratos têm que ser cortados e eles estão presentes em massas, arroz, açúcar, mel, pães, frutas, farinhas, tubérculos e doces em geral, ou seja, em praticamente todos os alimentos que uma pessoa está acostumada a comer. Se nada disso é permitido, o que se pode comer então? Carnes não processadas, aves domés­ticas, peixe, molusco, marisco, vegetais frescos, crus ou cozidos, legumes, queijo tipo Cheddar e iogurte feito em casa, fermentado por pelo menos 24 horas. E ­ainda, grande parte das frutas, chá, café, mostarda, vinagre e sucos sem suplementos. Haja disciplina...

A origem da dieta

Quem era Elaine Gottschall, a autora do livro Breaking the vicious cycle, que tem chamado a atenção de gastroenterologistas e nutricionistas com a sua dieta específica de carboidratos e que tem ajudado muitos pacientes com doenças inflamatórias intestinais? Até pouco mais de 30 anos atrás, ela era uma dona de casa comum que cuidava do bem estar do marido e de suas duas filhas. A vida da família, porém, virou do avesso quando a filha mais velha começou a manifestar diarréia crônica e dores no abdome. Demorou bastante até que fosse diagnosticada uma colite ulcerativa na menina, quando ela tinha cinco anos. Pelo que Elaine conta em seu site www.breakingtheviciouscycle.com, foi um médico clínico, o Dr. Sidney Valentine Haas, quem conseguiu resolver os problemas da sua filha quando ele perguntou à Elaine: “que tipo de alimentação ela está acostumada a comer?”

Resumo da história: fazendo a dieta orientada por esse médico, a garota não só ficou longe das cirurgias de intestino, que outros médicos haviam sugerido, preservando-o completamente, como também, ficou livre dos sintomas da doença dois anos depois que começou a fazer a dieta. Pelas informações que se tem, ela está bem já há mais de vinte anos. Com o sucesso do tratamento e depois que o Dr. Sidney faleceu, Elaine resolveu passar a dieta orientada por ele a todas as pessoas que, de alguma forma, tivessem problemas intestinais. (Hoje se sabe que a dieta tem bons efeitos também em casos de autismo). Esta é somente uma parte da história. Nesses 30 anos que se passaram, Elaine procurou se especializar no estudo dos efeitos que a comida causa no corpo humano. Ou melhor, como é a relação que existe entre a alimentação e as doenças intestinais como Crohn, colite ulcerativa, diverticulite, doença celíaca e outras formas de diarréia crônica. Elaine percorreu um longo caminho.

Ela passou 10 anos em universidades: graduou-se em bioquímica e depois fez pós-graduação no Departamento de Nutrição de Rutgers, na Universidade de New Jersey. Também passou pelo Departamento de Anatomia da Universidade de Ontário, no Canadá (para onde se mudou, em 1975), investigando as mudanças que ocorrem nas paredes do intestino com as doenças inflamatórias intestinais. A autora de Breaking the vicious cycle morava em Baltimore, no Canadá, e, nos últimos anos, costumava participar de seminários e conferências.

A ABCD em Foco tentou conversar com Elaine Gottschall em agosto. Isto só não foi possível porque, em contato com o seu editor, soubemos que ela estava doente. No dia 5 de setembro Elaine Gottschall faleceu.
fonte : http://cvdii.bireme.br/tiki-read_article.php?articleId=151

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